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Acesso à educação superior indígena em Roraima: a experiência do Insikiran


O Instituto completa 21 anos de fundação e traz de bagagem significativas contribuições à formação superior indígena no extremo norte do país


Por: Yasmim Trindade


Maloquinha, ponto de encontro para descontração de discentes e docentes do Insikiran (Foto: Yasmim Trindade)


Instituído em 2001 pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), o Núcleo Insikiran de Formação Superior Indígena, conhecido hoje como Instituto Insikiran, foi a primeira unidade acadêmica com cursos de graduação destinados à educação superior indígena, criada por uma instituição federal de ensino no Brasil.


Atualmente, o instituto conta com três cursos de graduação sendo eles: Licenciatura Intercultural (2002); bacharelado em Gestão Territorial Indígena (2009) e bacharelado em Gestão em Saúde Coletiva Indígena (2012). O núcleo dispõe de diversas ações internas como bolsas, projetos de extensão, atividades culturais e de intervenção, se configurando assim como um espaço de resistência dentro da universidade.


Jeane de Almeida da Silva, em Makuxi: Kaikusi'pa (onça fêmea), tem 44 anos e é professora formada pelo Insikiran. Em 2017 concluiu o curso de licenciatura intercultural e hoje é mestranda em Letras na UFRR. Jeane é uma das recentes professoras que passaram no concurso público e ela atribui essa realização graças ao instituto.


“O Insikiran é fruto de uma luta, durante muito tempo, das lideranças indígenas, desde quando o movimento começou a ter mais força na década de 70, fomentando essa ideia de educação diferenciada e específica aos povos indígenas. O instituto veio para atender e solidificar as lutas do nosso povo na educação”, afirmou.

(Foto: Yasmim Trindade)


A ex-aluna e atualmente professora na comunidade Guariba, região da Raposa, conta que o curso e o instituto ensinaram a trabalhar, ser professora de alunos indígenas, suprir a necessidade deles e ajudá-los na luta no mercado de trabalho e na universidade, dentro da realidade da comunidade.


“O Insikiran me ensinou a perceber que o professor não é apenas dar aula e pronto. O professor indígena vai além disso, ele tem uma vivência e um laço de pertencimento à comunidade. Além disso, o instituto abriu caminhos para fazer especialização e mestrado, mostrando que um indígena pode almejar e alcançar o que ele quiser”, declarou.

Diversidade é uma das palavras que define a pluralidade étnica indigena, afinal, são mais de 32 terras indígenas demarcadas e reconhecidas pelo estado brasileiro. O instituto Insikiran, conta com alunos de 10 etnias vindas de diferentes etnoregiões políticas e culturais distribuídas por todo território de Roraima, são elas: Makuxi, Taurepang, Wapichana, Ingaricó, Yanomami, Patamona, WaiWai, Ye’kuana, Sapará e Waimiri-Atroari.


Fotos de arquivo pessoal enviadas pelos alunos e professores do curso Insikiran


O professor Jonildo Viana trabalha na área de Ciências Sociais e nas Formações Básicas Específicas e vê o Insikiran como um marco na história dos povos indígenas, criando significativas oportunidades para a população indígena.


“A importância do ensino superior de qualidade, democrático e laico é de grande valia. O Insikiran trabalha com diferentes modos de vida de ser e de pensar no espaço tempo, que são os povos indígenas, por isso o nome do primeiro curso é licenciatura intercultural, as culturas dialogam umas com as outras, as indígenas e as não-indígenas, mostrando assim uma rede de possibilidades para entender o mundo”, explicou.

Dessa forma, completando 21 anos, o Insikiran continua a ser uma proposta inovadora e ousada, além de ser uma conquista histórica para os indígenas de Roraima e um exemplo que reflete em âmbito nacional o acesso à educação superior com sua singularidade e especificidade sociocultural.


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