Médicos apostam no diagnóstico precoce e no tratamento eficaz para aumentar a qualidade de vida dos pacientes
Seja uma crise de espirros, uma coceira depois da picada de um inseto ou uma má digestão depois de consumir um determinado alimento: os sintomas de alergia causam desconforto, e dependendo da situação, até um quadro clínico mais grave. Desde pequena, a estudante Naãma Valentina sempre apresentou reações alérgicas respiratórias, como tosse, congestão nasal e até falta de ar ao entrar em locais pouco ventilados e com muita poeira.
“No período seco, de pouca chuva, eu precisava limpar o meu quarto duas, três vezes por semana, porque quando o pó acumulava, o meu nariz começava a coçar, eu tinha crise de espirros, tossia muito e sentia falta de ar. Passei muitas noites sem dormir, fazendo inalação para conseguir estabilizar a respiração. Era terrível.”, conta a estudante.
A estudante de 15 anos relata que, inicialmente a família achava que o seu quadro clínico poderia melhorar com a limpeza do quarto, mas como a situação nunca se alterou, os pais então resolveram levar a paciente a uma médica alergista. Após o diagnóstico, a surpresa veio.
“Fizeram aquele teste com substâncias de alimentos, animais e de micro-organismos aplicadas no braço. Descobri que além do pó, também sou alérgica à ácaro e baratas. Fiquei chocada, imaginei ‘quem nesse mundo é alérgico à barata?’”
A mãe da estudante, Alzenira Mourão, diz ter se assustado com o resultado do teste, mas disse que começou a entender melhor a situação clínica da filha a partir do diagnóstico.
“Naãma sempre se assustou com baratas, algo que julguei normal, obviamente. Mas passei a lembrar que observei que sempre que ela pedia para eu matar alguma que aparecesse em casa, ela já estava com os olhos marejados e com o nariz escorrendo. A gente nunca imagina uma situação dessa até receber um diagnóstico médico”.
A autônoma de 55 anos relata reconhecer a importância de um diagnóstico da alergia para um tratamento específico e eficaz para a doença.
“O pai e o irmão da Naãma têm sinusite e rinite, então imaginávamos que se tratasse dessa mesma deficiência imunológica com a poeira, então a gente procurava deixar tudo limpinho, sem pó para tentar estabilizar o quadro dela. Só que se o problema dela não é só esse, essas ações que a gente tomava não seriam suficientes, então acredito que depois que fomos à médica e conseguimos entender o real problema dela, conseguimos lidar melhor com esse quadro alérgico da minha filha.”
Além dos problemas respiratórios, as alergias podem causar outros efeitos adversos em pacientes. Situação vivida pela Ana Karoline, diagnosticada com dermatite atópica desde os primeiros anos de vida. De início, os pais imaginavam se tratar de um “inchaço normal”, mas como os sintomas persistiam e se tornaram cada vez mais frequentes, os pais a levaram até um médico, que lhe deu um diagnóstico.
“Minha pele sempre foi muito sensível, e a minha mãe notou que podia ser alergia na pele. Eu fiz alguns exames e descobri que eu tinha dermatite atópica, principalmente nas juntas do cotovelo, atrás das pernas, no peitoral e em algumas partes das minhas costas. Sempre fica uma área muito vermelha, com espinhas e bolinhas.”
Ouça o depoimento de Ana Karoline Souza sobre os sintomas da dermatite atópica e da alergia à poeira e ácaros:
Além da dermatite, a estudante também foi diagnosticada com alergia à ácaros e poeira, e começou um acompanhamento médico.
“Com a poeira e o ácaro, sinto minha garganta ‘fechar’, começo a tossir e sentir muita falta de ar. Passei a evitar locais com muita poeira, e para a dermatite, não utilizava tantos produtos que agredissem a minha pele, como perfumes com muita fragrância, com muito cheiro, cor. Então, conciliei o tratamento com medicamento anti-alérgico, e com um cuidado maior na hora de escolher cosméticos e outros produtos” diz Ana Karoline.
Mudanças de hábitos
Naãma conta que depois do diagnóstico clínico da alergia enfrentou alguns desafios, como o medo de encontrar baratas na rua, e ter uma crise. Para conter a alergia, a jovem diz que continuou mantendo a limpeza dos cômodos com frequência, passou a tomar uma medicação prescrita pela médica e começou a treinar natação para “aumentar a resistência”:
“Passei a fazer um acompanhamento com a minha alergista, andando com uma ‘bombinha’ para conter a falta de ar. Sinto que me adapto um pouco todos os dias pra lidar com essa situação, mas acredito estar no caminho certo”.
Ela diz que o apoio da família e de colegas também tem sido crucial para enfrentar os desafios da condição alérgica.
“Sempre soube que casa limpa e arrumada acaba afastando esses ‘insetinhos’ (sic), mas eu sinceramente gostaria de que o mundo não tivesse essas alergias, sabe? Que as pessoas não precisassem ter medo de ficar com uma crise em público. Acho que isso seria incrível (risos)”.
Já a estudante Ana Karoline fez um tratamento até a adolescência com medicamentos prescritos para conter a alergia respiratória e o quadro de dermatite atópica. Com a evolução positiva, hoje, ela não faz mais o uso constante da medicação, mas continua evitando ambientes que possam lhe causar alergia.
“Tratamento diário e seguido, hoje eu já não faço mais. Ainda assim, eu preciso evitar locais com mofo, muito fechados. E se eu tiver um contato com esses ambientes, eu já tenho um medicamento para diminuir os sintomas na hora”.
Diagnóstico precoce
A alergia é um problema de saúde que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, e pode ter um impacto na qualidade de vida dos pacientes. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), atualmente, cerca de 40% da população mundial sofre de problemas alérgicos. Além disso, a projeção é que esse percentual chegue a 50%, até 2050.
Laila Sabino é alergista e diz que os problemas com alergias estão se tornando cada vez mais frequentes, e podem afetar pessoas de todas as idades.
“É importante que a população, que as pessoas conheçam que os quadros alérgicos podem se manifestar por diversas formas, por diferentes sinais e sintomas.”
Para ela, a atenção aos sintomas que cada paciente apresenta é fundamental para um diagnóstico, que deve ser precoce, de acordo com ela, para que o quadro clínico seja melhor tratado e não venha a afetar gravemente a qualidade de vida da pessoa.
“O tratamento vai depender do quadro clínico, do diagnóstico mais especificamente e da frequência com que esse sintomas ocorrem, se eles são persistentes, se eles ocorrem ocasionalmente. É exatamente por essa amplitude, por essa enorme possibilidade que o auxílio médico está indicado para que o paciente seja tratado da melhor forma.”
“As chamadas vacinas de alergia, onde a gente pode controlar a resposta imunológica e mudar a evolução natural da doença”, diz Laila Sabino - Vídeo: Arquivo pessoal.
De acordo com a alergista, após o diagnóstico da condição do paciente, a exposição a alimentos, animais ou ambientes deve ser evitada, além da adoção de medidas, como manter a casa limpa e livre de insetos são fundamentais para o sucesso do tratamento, feito com medicamentos, como sprays nasais e anti-alérgicos.
“Ele vai aprender a controlar a quantidade desses alérgenos, dentro de sua casa, e uma ferramenta muito útil que a gente tem em alguns casos é o uso da imunoterapia, que são as chamadas vacinas de alergia, onde a gente pode controlar a resposta imunológica e mudar a evolução natural da doença, fazendo com que o paciente ao longo dos anos fique mais tolerante e não sofra tanto com os sintomas”, finaliza Laila.
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