Violência física, psicológica, moral, patrimonial e sexual. Essa é a realidade das mulheres em Roraima
Levantamento da Polícia Civil de Roraima apresenta um aumento nos casos de violência doméstica no Estado. No primeiro trimestre deste ano, foram registrados cerca de 400 casos de lesão corporal, o que equivale a um aumento de aproximadamente 10%, em comparação ao mesmo período em 2022.
Os casos de ameaça também aumentaram. Foram cerca de 580 casos registrados no primeiro trimestre deste ano, que corresponde a um aumento de 7% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Em Boa Vista, a Casa da Mulher Brasileira (CMB) foi inaugurada em 2018 como instrumento para amparar as vítimas de violência no âmbito familiar, dentro da Lei Maria da Penha, criada em 2006. A Casa integra várias instituições especializadas para promover um atendimento multidisciplinar, para mulheres de 18 a 60 anos de idade.
A diretora da CMB, Graça Policarpo, explica sobre as etapas do acolhimento. “Cada mulher recebe um atendimento de acordo com a sua necessidade. O primeiro atendimento é na recepção, para passar por uma triagem. Após isso,a gente encaminha para o apoio psicossocial e direciona a mulher para delegacia, juizado, Ministério Público, Defensoria Pública, cuidado das crianças, alojamento temporário, entre outros serviços que a gente disponibiliza”.
Qualquer pessoa que se identifique como mulher pode buscar auxílio na Casa da Mulher Brasileira. Os atendimentos presenciais acontecem 24h no endereço: Rua Uraricoera, Bairro São Vicente, sem número. Para ser atendida de forma virtual, ligue 180.
Caso a mulher corra risco de ser vítima de um possível feminicídio, pode ficar alojada na CMB por até 48h. Na eventualidade de ainda não se sentir segura e necessitar de abrigo por mais tempo, é encaminhada para o Abrigo de Maria.
A diretora explica que o compromisso da Casa é deixar a mulher segura. “Priorizamos a vida. Até enviar a mulher para outro estado nós já conseguimos, compramos passagens aéreas se for preciso, várias vezes fomos de carro para outro Município e até para Manaus. Tudo isso para evitar um feminicídio.”
Dados preocupantes
No Brasil, a cada quatro horas uma mulher é vítima de violência aponta levantamento da Rede de Observatórios da Segurança. O boletim Elas Vivem: dados que não se calam revela que a cada dia, uma mulher morre por ser mulher, ou seja, vítima de feminicídio. A pesquisa abrangeu 7 Estados da Federação e fez um comparativo de casos de violência contra mulher no ano de 2021 e 2022.
A Defensoria Pública do Estado de Roraima (DPE-RR), trabalha na Casa da Mulher Brasileira para que as vítimas tenham amparo jurídico, em qualquer tipo de violência, não só as que se enquadram na Lei Maria da Penha.
A Defensora Especializada na Promoção da Mulher, Terezinha Muniz, explica que não existe um perfil de mulheres agredidas e nem de agressores.
“As mulheres geralmente não percebem que estão em um relacionamento abusivo. Da nossa experiência, percebemos que a violência doméstica pode estar no lar de todas. Não conseguimos traçar um perfil pois não há distinção de cor, idade, classe social e sexualidade, pois viver um relacionamento homoafetivo não isenta da possibilidade da agressão no lar”, afirma a defensora.
Não deve ser normalizado, porém é comum que histórias de mulheres vítimas de violência estejam nas editorias de polícia nos jornais locais, como no caso da mulher que foi amordaçada e morta a tiros . Além disso, a nível nacional tem casos como o da procuradora-geral que foi espancada em seu local de trabalho. A nível internacional, não é diferente, como é o caso da cantora Rihanna que foi espancada por Chris Brown.
Relatos da violência
Uma mulher que preferiu não revelar seu nome conta que sofre violência dentro de casa. “Eu estava bem com a minha vida de solteira, até que ele apareceu na minha vida muito carinhoso e atencioso, me apaixonei. Nos casamos e pouco tempo depois eu flagrei ele trocando mensagens com uma garota de programa, desde então a violência começou".
A vítima contou chorando que deseja encerrar esse ciclo de ameaças e torturas psicológicas. “Toda vez que a gente brigava, ele se desculpava no outro dia. Eu sempre cedia, mas agora está insuportável continuar vivendo assim, quero o fim disso".
As mulheres vítimas de qualquer tipo de violência podem entrar em contato no disque 100, para fazer uma denuncia anônima, ou no 190, para chamar a Polícia Militar.
A DPE atende 24h na Casa da Mulher Brasileira de forma presencial e de forma virtual pelo WhatsApp (95) 98104-2104.
Repórter: Tiago Côrtes
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