No entanto, a Universidade Federal de Roraima ainda enfrenta desafios para incluir venezuelanos no espaço universitário e organizações têm buscado informar e auxiliar migrantes sobre acesso ao Ensino Superior no Brasil
(Brayan sonha em cursar Relações Internacionais na UFRR e viajar por meio do trabalho humanitário para ajudar outros migrantes - foto: Eduardo Fredi)
Brayan Alexander Olmedo é um jovem venezuelano de 22 anos, que assim como milhares de migrantes e refugiados, diante da crise humanitária na Venezuela, decidiu vir para Roraima em busca de melhores oportunidades. Uma delas é o acesso ao Ensino Superior.
O jovem cursava Contabilidade Pública, mas durante o processo de migração, soube que o diploma de conclusão do ensino médio não seria revalidado no Brasil. Assim, a partir de informações da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e outras organizações, ele descobriu algumas possibilidades de continuar estudando.
“Como lá eu já tinha terminado o ensino médio com êxito, estava estudando contabilidade pública, mas por conta da minha decisão de migrar não pude continuar meus estudos. Soube que existem programas do governo federal do Brasil como o EJA [Educação de Jovens e Adultos] e o ENCCEJA [Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos] que dão oportunidade às pessoas que não finalizaram os estudos”, contou.
Brayan veio para o Brasil em 2020 e recebeu ajuda de uma amiga para cruzar a fronteira. Por duas semanas, o jovem ficou em Pacaraima, norte de Roraima, e em seguida veio a Boa Vista, onde morou por oito meses em um dos abrigos administrados pela Operação Acolhida, programa de resposta de enfrentamento à crise migratória no Brasil.
Hoje ele estuda na modalidade EJA e se prepara para prestar o vestibular da Universidade Federal de Roraima (UFRR). Seu sonho é cursar a graduação de Relações Internacionais e até migrar para outros países e ajudar outros refugiados por meio do trabalho humanitário.
“Já tomei a decisão de fazer Relações Internacionais, além da compreensão da situação migratória, compreender mais além a situação do refugiado, entender um pouco mais dos direitos e deveres de uma pessoa refugiada e eu gosto de aprender idiomas, então acho que dentro das RI [Relações Internacionais] posso desenvolver essa habilidade”, detalhou.
Além de estudar, Brayan é estagiário de reposição em um shopping de Boa Vista. No tempo livre, ele se dedica para intensificar os estudos para a prova do vestibular e principalmente na língua portuguesa, o principal desafio. Ele também prestaria o Exame Nacional do Ensino Médio, mas perdeu o prazo de inscrição.
Caso seja aprovado, Brayan fará parte da comunidade de 54 estudantes venezuelanos da UFRR. Conforme o levantamento da própria instituição, os cursos mais ocupados pelos migrantes da Venezuela são os cursos de Ciências Biológicas, com 10 estudantes e em seguida Ciências da Computação, com sete alunos. Além disso, outros 15 são formados pela instituição.
No entanto, se comparado aos 32 mil venezuelanos que vivem em Boa Vista, segundo as últimas estimativas da ONU, e aos mais de mil alunos dos cursos de graduação da UFRR os números ainda são baixos.
lustração: Samantha Nascimento
Vale destacar que em 2017, a Pesquisa Perfil Sociodemográfico e Laboral da Migração Venezuelana no Brasil, mostrou que os migrantes venezuelanos que estavam em Boa Vista apresentaram altos índices de educação formal, sendo que do total de entrevistados 30,5% possuíam ensino médio completo, ou seja, aptos a cursar o ensino superior.
Oportunidades
Brayan, que já trabalhou como auxiliar no escritório do governo do estado Delta Amacuro antes de vir para o Brasil e já foi voluntário na organização Refúgio 343, já em Roraima, agora tem as melhores expectativas para o futuro.
Ele se espelha em outros migrantes que já conseguiram entrar no ensino superior. Apesar de não conhecer pessoalmente, ele revela que já tentou conversar diretamente com a amiga de um conhecido, que cursa Geografia na UFRR para saber como é a faculdade, mas ainda não conseguiu
"Acho que vai ser como toda faculdade, tem seus momentos de estudar mais profundo a disciplina, a gente tem que ir atrás de entender. Acho que sim vai ter dificuldades, mas nenhuma dificuldade que eu não consiga passar”, avaliou.
Já para aqueles, que assim como ele também desejam continuar estudando e buscando melhorias, o recado é de persistência.
“Continuem se esforçando, cada dia tenha um pouco mais de dedicação, continuem com sua vida tanto para um emprego, quanto para estudar. Aqui no Brasil tem muitas oportunidades, não somente pessoas refugiadas, não só pessoas de um país específico”.
Bryan mora no Brasil desde 2020 e trabalha como estagiário em um
shopping de Boa Vista - Foto: Samantha Nascimento
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